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"Memórias da Guarnição" presta homenagem ao "Papico"

Santa Maria (RS) - A coluna "Memórias da Guarnição" desta quinta-feira (18), prestou singela homenagem ao Papico.

Gente da nossa gente: O Papico


José Geraldo de Oliveira, carinhosamente apelidado de “Papico” pelos militares do 27º Grupo de Artilharia de Campanha (27º GAC), nasceu em Ijuí-RS em 15 de novembro de 1958. De origem humilde, José Geraldo era filho de Luiz de Oliveira e Rosalina Custódio Oliveira e possuía onze irmãos.

José Geraldo chegou ao 27º GAC em 1973, para receber sobras de alimentos. Naquela época, o quartel doava as etapas excedentes das refeições para pessoas que eram cadastradas. O garoto, que não era cadastrado e não sabia falar, foi impedido de entrar. Após todos irem embora, o comandante da guarda percebeu que o garoto não havia almoçado e o conduziu ao interior do quartel para que se alimentasse e no dia seguinte, os militares levaram a situação ao comandante do 27º GAC, Coronel Haroldo Ferreira Dias, que prontamente aceitou o acolhimento do menino.

Papico recebeu banho, fardamento, corte de cabelo e passou a se integrar à rotina do aquartelamento, participando de todas as atividades, desde as formaturas a educação física. Por seu jeito irreverente e grande simpatia, todos no quartel tomaram grande afeição pelo garoto, que logo aprendeu a falar e a conhecer os nomes de todos os integrantes do quartel.

A alcunha Papico surgiu devido ao fato de ele não falar absolutamente nada quando de sua chegada ao quartel. A única coisa que se podia entender era o gesto que fazia com a mão próxima à boca e o som “papá”, que ele balbuciava quando sentia fome. Com o passar dos anos, Papico incorporou o comportamento militar e acompanhou a formação de inúmeras turmas de recrutas. A cada nova turma, os recrutas se apresentavam ao Papico, fato que colaborou para que ele se portasse de forma mais confiante e imponente, cumprindo rigorosamente os regulamentos e chamando a atenção dos soldados que eram pegos desatentos. Com o passar do tempo ele corrigia cada vez mais os recém-chegados à caserna e queria “mandar” nos recrutas. Desta forma, passou a ser chamado carinhosamente de “Cabo Sete”.

Nas inúmeras visitas de autoridades à Unidade, Papico sempre esteve presente, participando da atividade com o uniforme da tropa. Em uma destas visitas, o General-de-Brigada Marcos Antônio Felício da Silva, Comandante da Artilharia Divisionária da 3ª Divisão de Exército, que prestigiava a solenidade de entrega das estrelas para os tenentes recém-promovidos, convidou-o para se posicionar junto aos novos tenentes e receber, também, suas estrelas. A partir de então, ele só aceitava ser chamado de “Tenente Papico” e foi homenageado diversas vezes por meio de “promoções simbólicas” sempre fazendo questão de acompanhar as promoções de seus contemporâneos.

Muitos anos se passaram e o Tenente Papico via seus amigos tenentes serem promovidos ao posto de capitão e desejava, também, receber a promoção. Por muito tempo pediu ao comandante do quartel e a seus sucessores pela promoção. Finalmente, no dia do aniversário de 70 anos do 27º GAC, ele recebeu do Coronel Carlos Rocha Thomaz, comandante na época, a tão almejada promoção ao posto de Capitão.
Já com a idade consideravelmente avançada para alguém que é portador da síndrome de Down, condição que reduz consideravelmente a expectativa de vida do indivíduo, o Capitão Papico não utilizava a farda todos os dias, apenas o fazendo em ocasiões especiais, por julgar que já estava na reserva, como via acontecer com seus amigos de longa data que se aposentavam do serviço ativo.

Papico se tornou uma figura muito popular na cidade, sendo ovacionado em suas aparições nos desfiles militares do dia sete de setembro. Todos que conhecem a história do Papico se comovem com sua trajetória tão marcante para a história do 27º GAC.
Papico foi aluno do Colégio Tiradentes da Brigada Militar e da APAE e faleceu em 23 de março de 2018, vítima de uma pneumonia. Apesar de todas as dificuldades vividas e o desamparo social vivido em sua juventude, Papico teve uma história de superação e solidariedade. Sua personalidade marcante conquistou a simpatia de todos que o conheceram em suas passagens pelo 27º GAC e ele inspirou até mesmo a criação do poema “Papico e o Pique”, de autoria de João Paulo Jesus.

A história de Papico está gravada para sempre na própria história do Grupo Monte Caseros e foi uma das personalidades responsáveis pela formação do que alguns chamam de “a alma do 27º GAC”.

2020.6.18 memorias papico

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